Florence Henri, Untitled, 1928–30
Nella casa di fronte a me e ai miei sogni,
che felicità c’è sempre!
Vi abitano persone sconosciute che ho già visto ma non ho visto.
Sono felici, perché loro non sono io.
I bambini, che giocano sugli alti terrazzini,
vivono tra vasi di fiori,
eternamente, senza dubbio.
Le voci che salgono dall’intimità domestica
cantano sempre, senza dubbio.
Sì, devono cantare.
Quando è festa qua fuori, è festa là dentro.
E così deve essere laddove tutto si adatta –
l’uomo alla Natura, perché la città è Natura.
Che grande felicità non essere io!
Ma non penseranno così anche gli altri?
Quali altri? Non ci sono altri.
Quanto pensano gli altri è una casa con la finestra chiusa,
o se si apre,
è perché i bambini possano giocare sul terrazzo inferriato,
tra i vasi di fiori che non ho mai visto quali fossero.
Gli altri non sentono mai.
Chi sente siamo noi,
sì, tutti noi,
perfino io, che ora non sento più nulla.
Nulla? Non so…
Un nulla che fa male…
Fernando Pessoa
16 giugno 1934
(Traduzione di Antonio Tabucchi)
da “Poesie di Álvaro de Campos”, Adelphi Edizioni, 1993
***
«Na casa defronte de mim e dos meus sonhos»
Na casa defronte de mim e dos meus sonhos,
Que felicidade há sempre!
Moram ali pessoas que desconheço, que já vi mas não vi.
São felizes, porque não são eu.
As crianças, que brincam às sacadas altas,
Vivem entre vasos de flores,
Sem dúvida, eternamente.
As vozes, que sobem do interior do doméstico,
Cantam sempre, sem dúvida.
Sim, devem cantar.
Quando há festa cá fora, há festa lá dentro.
Assim tem que ser onde tudo se ajusta —
O homem à Natureza, porque a cidade é Natureza.
Que grande felicidade não ser eu!
Mas os outros não sentirão assim também?
Quais outros? Não há outros.
O que os outros sentem é uma casa com a janela fechada,
Ou, quando se abre,
É para as crianças brincarem na varanda de grades,
Entre os vasos de flores que nunca vi quais eram.
Os outros nunca sentem.
Quem sente somos nós,
Sim, todos nós,
Até eu, que neste momento já não estou sentindo nada.
Nada? Não sei…
Um nada que dói…
Fernando Pessoa
da “Álvaro de Campos, Poesia”, Assírio & Alvim, Lisboa, 2002